30
31
DA
– Dar vida aos manequins, que quando conse-
guem chamar a atenção são vistos como pessoas, é
um passo mais recente.
A minha convivência frequente com bonecos de qua-
drinhos me levou para o
toy art
de forma natural.
Mas demorei um bom tempo para entender exata-
mente o significado daqueles olhos do
Funny faces
.
Só depois percebi a frequência com que as pessoas di-
ziam que estavam me vendo e vendo a infância delas
na obra. Você tem um olhar e o desejo de fazer uma
obra que as pessoas vão ver, mas são pessoas que o
viram numa outra tela, a tela da televisão, numa inte-
ratividade multifacetada e que percorre
muitas direções.
DG
– E isso foi uma característica sua sempre?
DA
– Interatividade e multimeios sempre estiveram
presentes na minha produção. Gosto de brincar com
o olhar das pessoas, curiosas em descobrir sempre
algo mais nas minhas obras. As telas
Funny faces
com
dobradiças não acabam. São múltiplos. Tem varia-
ções do mesmo tema, mas fui abandonando aos pou-
cos pelos manequins.
DG
– E o quadro
Mocinhas
já era um início dos ma-
nequins?
DA
– Esse quadro foi influenciado pela minha expe-
riência na moda com a Farfan, minha
boutique em Ipanema nos anos 1970.
DG
– Mas atualmente você está na fase manequim.
É a sua produção mais recente?
DA
– Comecei a pesquisar manequins de lojas de-
pois da exposição em Estocolmo.
Pintar essa expressão inanimada que parece viva é
uma experiência fascinante. Fiquei encantado com
a possibilidade de dar vida a eles, retratando mane-
quins de loja como se fossem gente, numa expressão
entre o verdadeiro e o inanimado, entre a pessoa de
verdade e o manequim de gesso, quase real.
DG
– A exposição “A Porta” abriu tan-
tos caminhos que o levou a fazer um li-
vro. O que você gostaria que o público
sentisse ao ver pela primeira vez a sua obra completa?
DA
– Gostaria que o público sentisse que estou feliz
pela possibilidade de me conhecerem integralmen-
te. Um conjunto reflete amadurecimento. Vou fazer
65 anos em 2012, isso dá uma dimensão do quanto
percorri para chegar onde estou. Pretendo continuar
viajando pelo mundo, descobrindo com as crianças e
com as pessoas a possibilidade de acreditar e contri-
buir para um mundo melhor, pacífico e mais justo,
com oportunidades ao alcance de todos.
Meu ofício de “fazedor de artes” é o mundo mági-
co onde cabem todos os sonhos, toda
a emoção, toda a alegria, todo o afeto,
todo o aprendizado da vida.
PINOGATO
: CARTÃO
TOYART, 2009/10
Pinogato
(Cat pin):
Toy-art card, 2009/10
4 faces
,
obrada
coleção
manequim
4 faces
,
fromthe coleção
manequim
(mannequin
COLLECTION)
brought me naturally to toy art.
But it took me a long while to understand
precisely the significance of those eyes of
Funny faces
.
Only later did I realize the frequency with which people
said that they were seeing me and seeing their childhood
in the work. You’ve got a look, and the desire to make a
work that people will be seeing, but they are people who
saw you in a different canvas, i.e., the TV screen, in a
multifaceted interactivity, and one that runs in many
directions.
DG
–
And has this always been your characteristic?
DA
–
Interactivity and multimedia have always been
present in my production, I like to play with people’s
gaze; they are always curious to discover
something more in my works. The
Funny
faces
canvases with hinges are endless. They are multiple.
They offer variations on the same theme, but I gradually
gave them up for the mannequins.
DG
–
And was the
Mocinhas
(Sweet sixteen) painting
already the beginning of the mannequins?
DA
–
This picture was influenced by my experience in
fashion with Farfan, my boutique in the Ipanema neigh-
borhood in Rio de Janeiro in the 1970s.
DG
–
But currently you are in the mannequin phase. It is
your latest production.
DA
–
I began to research shop manne-
quins after the exhibition in Stockholm.
To paint this inanimate expression that
seems alive is a fascinating experience. I
became enchanted with the possibility of making them
come alive, with shop mannequins as if they were peo-
ple, in an expression between the real and the lifeless,
between the true, live person and the almost real plaster
mannequin.
DG
–
“A Porta” opened so many roads to you that it led
you to write a book. What would you like your public to
feel on seeing your complete body of work for the first
time?
DA
–
I would like the public to feel that I’m
happy with the possibility of their getting
to know me fully. A set reflects maturing.
I will be sixty-five years old in 2012; this
provides a measure of how far I have already traveled
to arrive where I’m at now. I intend to continue travel-
ing across the world, discovering with children and with
people the possibility of believing in and contributing to
a better world, peaceful and fairer, with opportunities
within everybody’s grasp.
My occupation as a “maker of art” is the magic world
in which there is room for all the dreams, all the emo-
tions, all the happiness, all the affection, all the learning
of life.